Noutesia.org

Aconselhamento Bíblico Noutético – Orientação Para a Vida


E se o meu cônjuge não é um convertido a Cristo?

Rev. Olivar Alves Pereira

Antes de tudo, deixo claro que este artigo não é dirigido àqueles que se declaram crentes em Cristo e membros de alguma igreja cristã, que se encontram num relacionamento de namoro com alguém não convertido, colocando-se deliberadamente em “jugo de desigual com os incrédulos” (2Coríntios 6.14). Para estes apenas tenho a dizer que estão em pecado e em desobediência à Palavra de Deus, portanto, só lhes resta uma alternativa se quiserem viver para agradarem a Deus: romper esse relacionamento.

Este artigo é direcionado àqueles que estão casados, e quando se casaram, ambos eram incrédulos, mas, pela misericórdia de Deus, um dos dois foi alcançado pela Graça de Jesus. Há casos em que nenhuma objeção é levantada por parte do não convertido e, o casal vive em relativa harmonia; por outro lado, os casos de atritos e desarmonia são muito mais frequentes e intensos em se tratando de um lar dividido quando um dos dois é convertido. O que o cônjuge convertido deve fazer? As Escrituras proveem amplos conselhos e recursos enchendo de esperança o coração desses irmãos.

Em 1Co 7.10-17, o apóstolo Paulo deu as seguintes instruções sobre o assunto:

(10) Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido
(11) (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.
(12) Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone;
(13) e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido.
(14) Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.
(15) Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz.
(16) Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?
(17) Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas.

1) Nunca cogite o divórcio, pois, ele é coisa de ímpio

Já encontrei irmãos que, estando nessa situação me disseram: “Pastor, estou vivendo num casamento com jugo desigual. Não posso continuar assim. Quero me divorciar”. Tal pensamento resulta de falta de conhecimento das Escrituras e do poder de Deus (cf. Mateus 22.29), bem como de um coração duro e dominado pelo pecado (ainda).

O Senhor Jesus deixou claro que o divórcio está fora de cogitação (cf. v.10), mas, em caso de divórcio : (1) não deve haver outro casamento, pois, a cláusula para o divórcio é somente o adultério, que não é o caso aqui; (2) ou que haja reconciliação (cf. v.11).

Nos dias de Paulo, algo inusitado estava acontecendo. Até então, somente os judeus eram o povo de Deus (com raras exceções de gentios que aderiram à religião do Antigo Testamento). Não havia necessidade de uma lei para tratar do assunto, pois, o Antigo Testamento era claro em rechaçar a união de judeus com gentios. Mas, agora com a Nova Aliança e o advento do Evangelho, pagãos estavam se convertendo a Cristo, e em muitos casos, apenas um dos cônjuges se convertia. Daí as palavras de Paulo: “Aos mais digo eu, não o Senhor…” (v.12). Ele não estava usurpando a autoridade de Jesus, mas, apenas legislando numa nova e inusitada situação que até então eles não viveram.

Nos v.12-14, Paulo estipula uma norma: havendo consentimento do incrédulo quanto ao exercício da fé e religião do convertido, então não deve haver divórcio. No convívio com o cônjuge crente, o ímpio é abençoado, e não somente ele, mas os filhos também santificados. O crente deve ser testemunho da graça e poder de Deus, agindo com paciência e compaixão, afinal, seu cônjuge ainda não tem a nova vida em Cristo e nem foi regenerado.

2) Empenhe-se por viver em paz

“Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte…” (v.15), caracterizando assim, o divórcio como coisa de ímpio e não de crente. O crente não tem essa “opção”. A ele cabe não se divorciar e envidar todos os esforços para que haja reconciliação. É muito comum que aqueles que crentes que querem se separar de seus cônjuges não crentes, usarem a parte final do v.15 (“Deus vos tem chamado à paz”) de forma distorcida. Eles se esquecem de que a reconciliação é a melhor maneira de viverem em paz, e não o divórcio (basta ver os processos judiciais por pensão alimentícia!).

3) Mantenha firmes a sua esperança e confissão de fé em Cristo

No v.16 Paulo faz uma pergunta: “Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”. Obviamente, ele não está afirmando que a salvação de um pecador depende de outro pecador, mas, sim, mostrando que o crente deve manter firme sua esperança e sua confissão de fé em Cristo, o que fica evidente com as palavras do v.17: “Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas”. O verbo imperativo “ande” (περιπατέω) além desse significado, também conota comportar, fazer o próprio caminho, progredir; fazer bom uso das oportunidades, viver, regular a própria vida, conduzir-se. Assim sendo, cabe ao cônjuge crente comportar-se “segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado”. Deus chamou o crente para viver em santidade e apresentando em seu viver o fruto do Espírito Santo (cf. Gálatas 5.22-24). Seja qual for a atitude do cônjuge não crente, a do crente sempre deve ser “conforme Deus o tem chamado”, ou seja, uma vida de obediência à Palavra a fim de glorificar a Deus. Se a salvação do ímpio depender de algo que o crente possa fazer, tal coisa é a sua obediência a Deus.

4) Destrua os ídolos do seu coração

Há, porém, um outro aspecto a ser ressaltado nas palavras “Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado“. Nelas, o crente encontra a plena provisão de Deus para uma vida santa e obediente. Tudo o que precisamos para agradar a Deus. Ele, antes de nos ordenar algo, nos capacita plenamente por meio de Seu filho Jesus Cristo, Sua Palavra e Seu Espírito Santo. Então, se você tem vivido ao lado de um cônjuge não crente e tem sofrido muito com isso, não tire seus olhos da pessoa de Cristo. Continue firme em sua fé e em confessá-Lo como a alegria de seu coração. Seu cônjuge precisa ver que para você Cristo é mais importante, mais valioso e mais amado do ele, e que a vontade do Senhor Jesus é a coisa para você a coisa mais importante nesta vida.

Um erro muito comum cometido por muitos crentes nessa situação de estarem casados com um descrente é o de colocarem sobre o seu cônjuge incrédulo toda a expectativa de uma vida feliz, como se a conversão dele fosse a coisa mais importante de suas vidas. Este é o ídolo que esses irmãos precisam destruir em seus corações. Não que a conversão de um pecador não seja algo importante, mas, para um crente, a cosia mais importante, a razão de sua paz e alegria não pode ser outra pessoa, senão a vontade do Senhor Jesus Cristo. Além de pecaminoso, é também desumano colocar sobre os ombros de um pecador (ainda mais um não convertido!) suas expectativas de plena satisfação de sua alma. O seu coração foi criado para ser satisfeito plenamente somente com a glória de Deus.

Deseje e ore pela conversão de seu cônjuge; coopere com o Espírito Santo por meio de uma vida obediente às Escrituras; testemunhe não só do conhecimento bíblico e teológico que você adquiriu, mas, do quanto o Espírito Santo tem transformado e governado sua vida por meio desse conhecimento. Seguirei daqui orando por você e me dispondo a ajudá-lo com aconselhamento bíblico.



Deixe um comentário