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Aconselhamento Bíblico Noutético – Orientação Para a Vida


O desejo de ser útil e a certeza de ser inútil

Rev. Olivar Alves Pereira

O principal entreva para perdoarmos alguém que nos ofendeu é o pecado do orgulho em nosso coração. Damos a nós um valor elevado, muito além do que realmente temos, e quando alguém não nos trata conforme esse suposto merecimento, ficamos ofendidos, magoados e ressentidos, e o próximo passo que damos é a vingança, quer seja por meio de ações de deliberada e planejada maldade, ou pela indiferença para com aqueles que nos ofenderam na tentativa de mostrar-lhes que eles não têm nenhum valor para nós.

Mas, o pecado do orgulho é tão sorrateiro, tão rasteiro e dissimulado, que, até mesmo está presente em nosso coração quando nos dispomos a perdoar àqueles que nos ofenderam. Por exemplo: quando alguém toca no assunto e nós dizemos: “Ah, eu já perdoei. Não trago mais nenhuma mágoa em meu coração”, mas, lá no fundo da nossa alma sabemos que há ainda resquícios de mágoa e dor. Por que então falamos que perdoamos se não o fizemos completamente? Porque somos hipócritas e queremos que as pessoas pensem de nós algo além daquilo que realmente somos, agindo exatamente ao contrário ao que a Escritura nos ensinam em 2Coríntios 12.6:

“Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve“.

É claro que se assim agirmos, não perdoamos de fato, pois, o verdadeiro perdão não computa mais nada contra quem nos ofendeu e nem a nosso favor porque perdoamos.

Um dos textos mais difíceis (pelo menos para mim) no tocante ao perdão é o de Lucas 17.3-10:

“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe.
Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá.
Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa? E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois, comerás tu e beberás? Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”.

Em primeiro lugar, o Senhor Jesus nos traz uma advertência seguida de um mandamento: “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe (v.3-4). Note que perdoar, para os filhos de Deus, não é uma opção, mas, um mandamento ao qual se obedece ou desobedece. O Senhor Jesus ainda deixa bem claro que tantas vezes quanto for pedido o perdão, devemos perdoar (e pedir o perdão). é exatamente isso que Paulo diz em Romanos 12.18:

“Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”.

Em segundo lugar, o Senhor Jesus afirma que o perdão estão intimamente relacionado à fé. Quando os discípulos argumentaram que era necessário que Cristo lhes fizesse sua fé crescer para cumprirem o mandamento do perdão. O Senhor Jesus não discordou deles. Em vez disso, Ele reafirmou que o ato de perdoar está intimamente relacionado à fé. Porém, ao contrário do que eles pensavam ser necessária uma grande fé para concederem o perdão, basta uma fé pequena, semelhante a um grão de mostarda para remover as montanhas do da ofensa.

Quando deixamos de perdoar alegando que tal é muito difícil para nós estamos mostrando que nossa fé é inexistente, pois, se fosse pequenina como um grão de mostarda, perdoaríamos.

Por fim, o Senhor Jesus dá um golpe fatal em nosso orgulho. Nosso coração é soberbo e orgulhoso. Nosso eu fica inflado quando faz algo correto, tanto é que não fazemos nenhum esforço para esconder, pelo contrário, fazemos propaganda dos nossos feitos bonitos (muito diferente do que acontece com os nossos atos pecaminosos que tentamos esconder a todo custo). Quando perdoarmos alguém devemos o tempo todo dizer ao nosso coração: “Inútil! Inútil! Inútil! Você não fez nada mais do que a sua obrigação”.

A ilustração que o Senhor Jesus usou aqui fala por si só. Um senhor tem um servo que trabalhou o dia todo no seu campo cuidando de sua lavoura e gado. Depois de um dia extenuante e cansativo, aquele servo tinha mais afazeres na casa de seu senhor, pois deveria lhe preparar a refeição da noite. Somente após fazer tudo isso, e depois que seu senhor comesse, é que ele então poderia se assentar à mesa e comer. O Senhor Jesus então perguntou ao Seus ouvintes: “Vocês agradeceriam a este servo por haver feito tudo o que era obrigação dele?”. Com certeza, não. Tal verdade para uma geração fraca e mimada como a nossa traz muito desconforto, pois, queremos ser aplaudidos e ovacionados quando fazemos o que é a nossa obrigação. Mas, é a nossa obrigação! O que há de extraordinário nisso? Por isso o Senhor Jesus nos dá outra ordem: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”.

Não devemos abrigar em nosso coração nenhum sentimento ou pensamento de que aqueles a quem perdoamos estão nos devendo algo. Quando perdoamos alguém não estamos fazendo nada além de nossa obrigação, afinal, fomos perdoados por Deus e, perdoados devem perdoar.

As pessoas que perdoarmos devem seguir livres não só da culpa por nos ter ofendido, mas, por não deverem nada a nós. Em se tratando de perdão, a única pessoa para quem todos nós ficamos devendo é o Senhor Jesus, afinal, o Seu perdão não só nos capacita a perdoarmos, como também nos liberta da culpa e condenação que tínhamos diante de Deus.

Depois que você perdoar completamente àqueles que lhe ofenderem, repita constantemente para o seu coração: “Inútil! Inútil! Inútil! Você não fez nada além do que devia”. Deseje ser útil nas mãos de Deus, mas nunca se esqueça de que você, se fizer tudo o que Ele lhe ordena, não passa de um inútil.

Ad Majorem Dei Gloriam



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