Noutesia.org

Rev. Olivar Alves Pereira

“O qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1.4).

Desarraigar é o ato de arrancar pela raiz. A vida em Cristo é descrita nestes termos. Todos nós sabemos que se arrancarmos uma planta e se, o quanto antes não a plantarmos em outro lugar ela morrerá desnutrida.

Estávamos arraigados neste mundo perverso até que Cristo, por Seu poder e graça nos arrancou. Ele não nos deixou desarraigados para morrermos de inanição; tão logo nos arrancou desse mundo, não plantou, inseriu, enxertou em Si mesmo.

Em Cl 1.13 lemos:

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”.

O apóstolo Paulo descreve a nossa salvação como um ato operado pelo Deus Triúno em nos arrancar deste mundo perverso e nos transportar para o Seu Reino. Alguns aspectos desse “desarraigar/transportar” divino merecem nossa atenção aqui.

O Reino de Deus é uma realidade já nesta vida.

             Muitos crentes pensam que a “Vida Eterna” que Cristo veio nos dar será algo a ser desfrutado somente na eternidade. É claro que a vida eterna no céu é nossa grande esperança, mas, jogar apenas para o futuro eterno essa bênção é um equívoco. Cristo veio para nos dar vida em abundância (Jo 10.10), isto é, uma vida cheia da vida que o Espírito Santo gera em nós. O Senhor Jesus disse:

“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.37,38).

Todos aqueles que foram encontrados por Cristo, também a certeza de que seus pecados foram perdoados, iniciando assim em seus corações, um poderoso processo de transformação no caráter. Dessa forma, a salvação não somente é o livramento da condenação eterna como também a libertação dos grilhões da alma já nesta vida. Cristo não nos transportará para o Seu Reino; Ele já nos transportou! O Reino de Deus já é uma realidade presente em nossa vida. Este gozo não será somente eterno, mas, também presente agora e desde já desfrutado. É claro que quanto mais caminhamos em direção da eternidade, tanto mais esse processo de transformação se intensifica em nossa alma. E é aqui que está o segundo aspecto desse “arrancar/transplantar” divino:

Este processo é doloroso

Dói-nos deixar hábitos, costumes e gostos pessoais quando estes estão em contradição com a Palavra de Deus. Sermos lapidados e transformados por Deus traz, a princípio, desconforto para o nosso coração. O processo de desarraigar da alma é um rompimento de raízes. E isso dói muito!

Olhar para os bens materiais, para os nossos projetos pessoais ou para qualquer outra coisa que deve estar em segundo plano em nossa vida em relação a Cristo é um processo que muitas vezes é difícil. Às vezes a perda de bens materiais não se trata de má administração de nossa parte, mas, sim, de Deus nos desarraigando de coisas que em si mesmas não são más, mas, que por causa do nosso coração idólatra tais coisas se tornarão mais importantes para nós do que o Reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6.33).

Tenho pedido a Deus que me dê forças nesses momentos em que Ele está me desarraigando desse mundo, porque ver coisas que conquistei, projetos que elaborei e sonhos que pude realizar indo por água abaixo, não é fácil. Nessa hora, Deus me lembra de que sou um peregrino, e como tal tenho de andar com pouca bagagem, somente a necessária para o dia. Sou um forasteiro e não pertenço a esse mundo, e nada neste mundo me pertence; pertenço a Deus, meu lar é o céu e eu não posso me esquecer disso jamais, senão me perderei na jornada.

O processo de desarraigamento que Cristo faz em meu coração muitas vezes me traz tribulações. Aliás, o sentido etimológico da palavra “tribulação” está ligado a um instrumento utilizado na colheita do trigo conhecido como tribulon. Este instrumento lembra uma foice cheia de serrilhas e quando entrava em contato com o feixe de trigo, o agitava, o “atribulava”. Sei que Deus sempre está me chacoalhando por meio de tribulações. Isso me faz lembrar que estou no meio de um processo de desarraigamento deste mundo, que fui transportado para o Reino do Filho do Seu amor, e agora, como diz o Sl 92.13 estou plantado na Casa do Senhor e estou florescendo nos átrios do meu Deus, e tudo isso com o propósito de anunciar que o Senhor é reto e Nele não há injustiça (Sl 92.15).

Sim, quero anunciar a bondade de Deus em não me deixar arraigado a este mundo perverso. Quero anunciar Sua bondade e misericórdia em transportar-me para o Seu Reino e estar comigo durante todo esse processo nesta vida que é eterna e que também já começou enquanto ainda estou aqui. O processo é doloroso, mas, vale a pena.

Ad Majorem Dei Gloriam