Há muita confusão em torno desse assunto. A definição mais comum (e equivocada) é a de que legalismo é o modo de viver preso a leis, sendo um constante vigilante para não deixar de cumprir nenhum só preceito, quer seja do nosso código civil, ou das Escrituras. Por isso, que que se vê alguém procurando cumprir cuidadosamente as leis, não tarda a surgir aqueles que o acusam de ser um legalista.
Mas, por essa definição é errada? Porque se fosse assim, o Senhor Jesus teria sido o principal legalista, pois, as Escrituras nos mostram que Ele cumpriu a Lei de Deus, imediata, inteira, interna e ininterruptamente. Em Rm 8.3-4 lemos:
“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”.
Toda a condenação que a Lei de Deus trazia sobre nós por sermos pecadores, recaiu sobre Cristo. Mas, não somente por Sua morte somos salvos, mas, também por Sua vida de obediência total à Lei de Deus, tal como lemos em Rm 5.10:
“Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”.
O legalismo também não é um cumprimento da Lei forçadamente, sem aquele desejo e amor que se deve ter por Deus e Sua Lei. É claro que essa obediência não é a ideal, mas, mesmo assim, Deus a requer de todos os homens (cf. Ec 12.13).
Uma vez que entendemos que o legalismo não é o ato de cumprir a lei, o que ele é então? As Escrituras nos mostram com clareza. Observemos o que é dito dos fariseus, que, por causa de sua hipocrisia, tornaram-se a personificação do legalismo.
Em Mt 23, lemos:
“Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens” (v.1-7).
O legalismo deles é revelado nas palavras: “porque dizem e não fazem” (v.3); “Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los” (v.4), e “Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens” (v.5).
O legalismo então é o ato de uma pessoa que exige que os outros obedeçam fielmente à Lei, enquanto ela própria não a obedece. O legalista impõe normas pesadas sobre os outros, mas, ele mesmo não cumpre nem uma pequena parte dessas normas que ele exige.
O legalista é um mau caráter mentiroso, pois, o seu zelo pela Lei tem como objetivo o aplauso e a admiração das pessoas que não o conhecem verdadeiramente, pois, se o conhecessem não o admirariam.
O legalista é um hipócrita que finge ser o que não é, que cumpre a Lei quando lhe convém, ou quando quer se exibir. Ele não deve ser confundido com aquela pessoa de que falamos anteriormente, que cumpre a Lei sem ter vontade, pois, quem obedece à Lei mesmo que no seu coração não tenha essa vontade no momento, tal pessoa não está sendo hipócrita como é o caso do legalista. Uma obediência forçada pode ser transformada em obediência amorosa e sincera, pois, a pessoa está obedecendo a Deus, e o contato com a Lei do Senhor faz a pessoa contemplar a beleza de Deus, e, assim ter seu coração transformado por Ele e enchido com o Seu amor. Já o legalista hipócrita não tem essa esperança. Seu coração está voltado para si mesmo. O único amor que ele tem é o amor-próprio. Para confirmar isso que estamos dizendo, veja Mt 21.28-32 (sugerimos que você acesse https://noutesia.org/2023/05/11/exposicao-do-evangelho-de-mateus/ páginas 330 a 332 para obter uma análise dessa parábola).
Fuja do legalismo. Ele aparenta piedade, mas, é carregado de podridão; fala de vida, mas só carrega morte; fala da glória de Deus, mas, é encharcado de vanglória. Sonde o seu coração o tempo todo à luz da Palavra de Deus. Não seja complacente com seu coração. Encontrando pecados ali, persiga-os e destrua-os pelo poder de Deus em obediência à Seu Lei, e quando você estiver vencendo esses pecados, renda todo louvor e glória a Cristo, pois, é somente pelo Seu poder, sacrifício e vida que você pode vencer o pecado. Quando você falhar em obedecer à Lei, busque o perdão de Deus, e confie somente nos méritos de Cristo, que foi o único com cumpriu a Lei interna (de coração), inteira (sem quebrar um só preceito), imediata (sem demora, mas, no tempo certo), e, ininterruptamente (o tempo de Sua vida).
Rev. Olivar Alves Pereira
Ad Majorem Dei Gloriam

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