Uma das lições mais difíceis da vida cristã que temos de aprender é sem dúvida alguma, o perdão. Muitos conceitos errados e até mesmo contrários à Palavra de Deus têm sido difundidos fora e dentro da Igreja levando muitas pessoas a mergulharem no ressentimento, mágoa e amargura, ou na melhor das hipóteses, seus corações ficam iludidos com recursos humanos que não tratam da alma e não restauram relacionamentos.
É muito comum ouvirmos que “perdoar é esquecer”. Bem, tal coisa só é possível se você tiver uma amnésia, ou algo como o Mal de Alzheimer (e talvez nem isso!); do contrário, esquecer é impossível!
Outro conceito muito comum é: “Eu perdoo você, mas, não quero mais conversar e nem me relacionar mais com você”. Pior é a situação daqueles que decidem não perdoar porque dizem não acreditarem no perdão.
Mas, perdoar é possível. Perdoar é necessário. Perdoar é agir como Deus quer e não como queremos.
Com certeza, a grande dificuldade de perdoar reside em dois motivos: não saber o que é o perdão de Deus (este é o caso dos não convertidos), e, não compreender as dimensões do perdão (este o caso de muitos convertidos).
Em todos os casos o padrão para o perdão é Deus. O ímpio não pode perdoar como Deus quer que ele perdoe pelo fato de ainda estar morto em delitos e pecados (Ef 2.1). Exigir que um ímpio perdoe conforme a Palavra de Deus ordena é algo totalmente ilógico. Quanto ao crente que está com dificuldades em perdoar alguém (e o perdão inclui restabelecimento do convívio), é bem provável que este esteja ignorando o que a Bíblia diz sobre o assunto, ou mesmo esteja se rebelando contra a vontade de Deus, o que é algo muito sério.
Quero chamar a sua atenção para o que a Bíblia diz em dois textos, ambos no livro de Isaías, sobre o perdão de Deus, o qual somos chamados a imitar como filhos amados (Ef 5.1).
O primeiro texto é Is 38.17 a conhecida oração de louvor do rei Ezequias quando foi curado por Deus, depois de ter recebido a sentença de morte da parte Dele através do profeta Isaías. O rei Ezequias disse:
“Eis que foi para minha paz que tive eu grande amargura; tu, porém, amaste a minha alma e a livraste da cova da corrupção, porque lançaste para trás de ti todos os meus pecados”.
Observe essa declaração em destaque. Deus lança para trás Dele os nossos pecados. Não se trata de esquecer, mas, sim, de não ficar lembrando e “jogando no rosto” da pessoa os pecados dela. Quando confessamos a Deus os nossos pecados, Ele os lança para trás Dele, ou seja, Ele retira de diante dos Seus olhos os nossos pecados e não fica buscando uma oportunidade de lança-los em nossa cara. Quando Lhe confessamos algum pecado, Ele não nos diz: “Mas, de novo? Mais uma vez você cometeu esse pecado?”. Muitas vezes fazemos isso com aqueles que nos ofendem, não é mesmo? Agindo assim, não estamos imitando o nosso Pai Celeste.
O segundo texto é Is 43.22-25. Ali Deus está falando ao povo de Israel que este Lhe deu muito desgosto. Israel é acusado de: (a) se cansar e esquecer de Deus (v.22); (b) ter oferecido os sacrifícios aos ídolos e falsos deuses, sacrifícios estes que eram por direito de Deus (v.23,24); (c) em vez de consagrarem a Deus e Lhe ofertarem sacrifícios de louvor, Israel deu a Deus somente
“trabalho com os teus pecados e me cansaste com as tuas iniquidades” (v.24).
A um povo que Lhe deu somente pecados em vez de sacrifícios, vergonha em vez de honra, Deus diz:
“Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro” (v.25).
Outro motivo pelo qual perdoarmos quem nos ofende é algo muito difícil é porque nos amamos demais e queremos que as pessoas nos deem a honra que queremos, e quando elas não fazem assim, fechamos-lhes o nosso coração numa tentativa de matar o outro. Agora observe o que Deus declarou no v.25: Ele disse que apaga as transgressões do Seu povo por amor a Ele mesmo, só que diferentemente de nós, o amor que Deus tem por Ele mesmo O leva a perdoar os nossos pecados. Já conosco é diferente, pois, nosso amor por nós mesmos nos impede de perdoarmos quem nos ofende. Logo, a conclusão que chegamos é que o nosso amor próprio não é o amor verdadeiro que está em Deus.
O amor verdadeiro que é oriundo de Deus se move em direção ao nosso ofensor e o perdoa envidando todos os esforços para “apagar” a transgressão do outro para não mais ficar se lembrando da mesma. O verdadeiro amor apaga a transgressão e não o transgressor!
Rev. Olivar Alves Pereira
Ad Majorem Dei Gloriam

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