Um dos pecados mais comuns presentes em nosso coração é a como não toleramos determinados pecados, porém, a ira não somente a toleramos em nosso coração como a praticamos com muita facilidade. A Palavra de Deus é enfática:
“Deixa a ira, abandone o furor; não te impacientes, certamente isso acabará mal” (Sl 37.8), e ainda “longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia” (Ef 4.31).
Existem muitos outros textos bíblicos que apontam para o pecado a ira e os seus efeitos maléficos para nossa vida. Contudo, para nos ensinar mais sobre o assunto vejamos a conhecida história bíblica dos irmãos Caim e Abel.
Em Gn 4.2 somos informados de que Abel tornou-se pastor de ovelhas enquanto Caim, agricultor. Quando chegou o tempo deles cultuarem a Deus (v.3), cada um trouxe sua oferta a Deus. Caim trouxe
“do fruto da terra uma oferta ao SENHOR”, e Abel “das primícias do seu rebanho e da gordura deste” (v4). Porém, “Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou” (v.4,5).
Antes de prosseguirmos falando sobre a ira é importante sabermos por que Deus Se agradou de Abel e de sua oferta, e não aconteceu o mesmo com Caim.
Para entendermos isso é importante lembramos que quando Adão e Eva pecaram, ao perceberem que estavam nus, tomados de vergonha, costuraram folhas de figueira para se cobrirem. Em Gn 3.21 vemos a misericórdia de Deus sendo revelada a eles, pois,
“Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu”.
Temos aqui o mais importante “princípio de culto a Deus”, o elemento principal, sem o qual não existe culto que agrada a Deus, e este princípio é: um inocente morrendo no lugar do pecador culpado para cobrir sua culpa. Um animal inocente ao dar sua pele, obviamente, morreu. Assim, os culpados (Adão e Eva) tiveram a vergonha do seu pecado (representada aqui na nudez) coberta pela vida (a pele) de um inocente. Tudo isso aponta para o Senhor Jesus,
“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
Este princípio de culto deve estar presente em nosso coração o tempo todo, pois, não podemos adorar a Deus sem Jesus; só podemos ter acesso ao Trono da Graça de Deus porque Jesus Se entregou por nós, o Inocente e Santo Filho de Deus morreu em nosso lugar, pecadores culpados.
Isso posto, voltemos para Caim e Abel tendo em mente que a oferta que Deus exigiu de Seus adoradores tinha de derramar sangue. Por esse motivo, Caim e sua oferta não foram aceitos por Deus, porque legumes e hortaliças não derramam sangue. Caim quis adorar a Deus do seu jeito, e não do jeito que Deus havia estipulado. Por esse motivo, ele representa muito bem os pecadores que não se enquadram na Lei de Deus e querem fazer as coisas (até mesmo adorar a Deus) do seu próprio jeito. Abel foi aceito por Deus porque ele adorou a Deus da forma estipulada por Ele. É importante lembrarmos que Deus aceita (ou rejeita) a oferta com o adorador. Não é só a oferta que é aceita ou não, mas, também o adorador.
Caim estava irado, e o próprio Deus é quem diz isso:
“Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante?” (4.6).
No v.7 o SENHOR Deus deixa claro que a obediência a Ele faz com que sejamos aceitos por Ele, ao passo que a desobediência traz a Sua rejeição. Mas, ao ser rejeitado por Deus, Caim encheu-se de ira.
O primeiro efeito desastroso da ira no coração é um semblante descaído, o que também é chamado de “cara amarrada”, “semblante que mostra raiva”. É impossível esconder a ira em nosso coração, pois, mais cedo ou mais tarde, ela se fará ver em nosso rosto.
O segundo efeito desastroso da ira é a falsidade. Caim cheio de falsidade em seu coração fez parecer que estava tudo bem entre ele e seu irmão. Tramando um plano demoníaco, saiu com ele e num lugar deserto, executou seu plano maligno: matou seu irmão (4.8). Quando nos deixamos dominar pela ira nos tornamos pessoas falsas, fingidas. Olhamos nos olhos daqueles a quem queremos vingar, e ainda fazemos “cara de bom amigo”, usamos palavras bajuladoras, mas, na verdade, tramamos o mal contra a pessoa ou desejamos que ela sofra alguma coisa ruim.
O terceiro efeito desastroso da ira é a vingança. Um coração irado fará o mesmo que Caim fez: vingar. A vingança tanto pode acontecer com uma ação efetivada ou uma omissão deixando de fazer o que precisa ser feito. No caso de Caim ele efetivou uma ação maligna: ele matou seu irmão.
O quarto efeito desastroso é a grosseria nas palavras. Ao ser arguido pelo próprio Deus suas palavras foram ríspidas: “Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?” (v.9). Um coração irado terá palavras grosseiras. Observe suas palavras, elas revelarão o que está em seu coração.
O quinto efeito desastroso da ira é o egoísmo. Caim revelou-se irado porque ele não foi aceito. Isso mostra que a única pessoa que importava ser agradada para ele era ele próprio e não Deus. Ele também mostrou egoísmo quando não se importou com a tristeza que traria para seus pais quando estes soubessem que seu filho Abel estava morto. Mas, é quando Deus sentencia Caim que ele mostra seu egoísmo. Em momento algum ele ficou triste por ter pecado contra Deus desobedecendo o princípio de culto, roubado de Deus o direito que só a Ele pertence de tirar a vida de alguém, pelo mal causado à sua família, especialmente ao seu irmão, mas, sua tristeza e preocupação foi somente consigo mesmo:
“É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará” (v.13,14).
Não facilite. A ira nunca virá sozinha!
Rev. Olivar Alves Pereira
Ad Majorem Dei Gloriam

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