Uma das mais complexas doutrinas bíblicas é a da Trindade Santa, ou Triunidade. É um daqueles mistérios que nos são apresentados pelas Escrituras, porém, não explicados a ponto de nossa mente poder entender. De certa forma, todas as doutrinas bíblicas guardam esse aspecto da não compreensão, porque o objetivo das Escrituras não é nos dar explicações inteligíveis sobre o Ser de Deus. O que Ele quer que Dele saibamos, certamente, por meio do Espírito Santo agindo em nós, Ele nos fará saber. Confesso que uma das verdades mais preciosas que aprendi ao longo da minha trajetória cristã foi saber que, quando Cristo me chamou para segui-Lo, Ele não me prometeu dar todas as respostas aos meus questionamentos, mas, sim, que, em segui-Lo Ele me conduziria ao Pai e à Sua glória eterna. Não tenho todas as respostas e explicações, mas, tenho a certeza de que não ficarei perdido no caminho, e muito menos serei deixado por Jesus em algum ponto desse processo. Tal como o apóstolo Paulo eu creio:
Por isso estou sofrendo assim. Mas não me envergonho, pois conheço aquele em quem creio e tenho certeza de que ele é capaz de guardar o que me foi confiado até o dia de sua volta (2Timóteo 1.12).
Isto posto, quero compartilhar com você algo maravilhoso sobre a doutrina da Trindade Santa e a nossa prática de oração, a saber, a Trindade Santa está envolvida em nossa oração.
Vejamos o que diz o Catecismo Maior de Westminster sobre a natureza da oração cristã.
Pergunta 178: “O que é oração?”
Resposta: “É um oferecimento dos nossos desejos a Deus, no nome de Cristo, com o auxílio do Espírito Santo, com a confissão dos nossos pecados e o grato reconhecimento de Suas misericórdias”.
Sabe-se que a oração é uma prática universal e de todas as religiões. Porém, orar para falsos deuses ou ídolos não valida essas orações, mesmo que venham carregadas de sinceridade. A oração eficaz é aquela dirigida ao Deus Triúno. Essa é a oração cristã, a qual é um relacionamento direto com a Trindade Santa. Vejamos as quatro partes da resposta a esta pergunta: a entrega dos nossos desejos a Deus; a confiança nos méritos de Cristo; a nossa dependência do Espírito Santo; e o conteúdo da nossa oração.
A entrega dos nossos desejos a Deus
“É um oferecimento dos nossos desejos a Deus…”. No Sl 62.8 lemos:
“Confiai nele, ó povo, em todo tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio”.
Oferecer os nossos desejos a Deus, não significa dizermos para Ele o que queremos que Ele faça, mas, sim, submetermos a Ele os nossos desejos para que Ele nos mostre se os mesmos estão ou não em acordo com a Sua santa vontade. No Sl 62.8 encontramos duas ações que devem estar presentes em nossas orações a Deus: confiança e sinceridade. Devemos confiar que Ele tem poder para realizar o que pedimos, mas, também devemos confiar em Sua sabedoria quando a resposta Dele não for a que esperávamos; Ele sabe o que faz (cf. Mt 7.11; Lc 11.13). Devemos também ser sinceros diante Dele; é isto que a Escritura quer dizer com “derramai perante ele o vosso coração”. O ato de “derramar” diante de Deus as orações aqui é emprestado da linguagem sacerdotal e do sistema de culto do Antigo Testamento. Havia ofertas de libação, ou seja, ofertas líquidas que eram derramadas no altar do SENHOR Deus. E assim Davi incita o povo a derramar suas orações na presença de Deus, pois, nada agrada mais a Deus do que corações sinceros e totalmente rendidos em Sua presença clamando por Sua misericórdia.
A confiança nos méritos de Cristo
“…no nome de Cristo…”. Em Jo 16.23, o Senhor Jesus promete:
“Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome”.
Temos que entender que, Deus nos ouve não por nossos méritos, mas, somente pelos méritos de Cristo. Isto humilha nosso soberbo coração que se ilude com facilidade. Se temos a graça de sermos fiéis e piedosos, isto devemos totalmente a Cristo. Se conseguimos obedecer a Deus, foi porque Cristo nos justificou e nos fez aceitáveis a Deus. Logo, quando oramos, não são nossos méritos que são levados em conta por Deus, mas, o sacrifício vicário de Jesus.
Aqui devemos atentar para três erros sérios que nos levam a pecar contra Deus em relação ao nome de Jesus quando oramos. Primeiramente, o erro de usar o nome de Jesus como um mantra, ou palavra mágica, um “abracadabra” para obtermos algo que queremos. Não é porque mencionamos as palavras “em nome de Jesus”, no meio ou no final de uma oração que Deus será obrigado a nos responder. O segundo erro é o de não oramos “em nome de Jesus”. Se a simples menção do Seu nome como uma palavra mágica é errado, também o é quando oramos a Deus e não mencionamos o nome de Jesus. Por mais sinceros que sejamos, estamos desobedecendo ao Senhor Jesus que nos ordena a orar em Seu nome., por fim, o terceiro erro é o de pensamos que basta ter fé que receberemos tudo o que pedirmos a Deus. Quando Jesus disse: “tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis” (Mt 21.22), não está enfatizando que receberemos tudo o que pedirmos, mas, sim a necessidade de crermos plenamente na misericórdia, sabedoria e bondade de Deus.
A nossa dependência do Espírito Santo
“…com o auxílio do Espírito Santo…”. Não sabemos orar como convém, por isso mesmo, a oração cristã deve ser feita na total dependência do Espírito Santo. O texto de Rm 8.18-30 é sobremodo profundo e belo. Ali, Paulo falando sobre os efeitos do pecado na criação e nos homens especialmente, nos mostra “os três gemidos”. O primeiro gemido é o da criação (v.18-22) em face sujeição à vaidade por causa do pecado do homem; ela aguarda volta de Cristo e o resgate da Igreja e dela própria que haverá de ser restaurada pelo poder de Deus. O segundo gemido é o da Igreja (v.23-25). Neste vida, o sofrimento é uma realidade inexorável e certo; ele foi severamente ampliado depois pecado e será extirpado somente quando Cristo vier nos buscar – eis porque a nossa esperança deve estar somente na volta do Senhor Jesus. Por fim, o terceiro gemido é o do Espírito Santo (v.26-27). Ele “intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (v.26), os quais somente Deus pode compreender (v.27). Ele tem o poder de fazer cessar nosso sofrimento, mas, em vez disso, Ele intercede por nós, sobremaneira, ou seja, de uma forma e intensidade que jamais poderemos entender. Que verdade reconfortante ao nosso coração!
Em 1Jo 5.14 lemos:
“E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”.
Não sabemos orar como convém, isto é, de conformidade com a vontade e mente de Deus. Além disso, as nossas fraquezas nos impedem de orarmos de acordo com a vontade de Deus. Somos muitas vezes, frios e desprovidos de ânimo em nossas orações. Por tudo isso, dependemos e devemos reconhecer nossa total dependência do Espírito Santo conduzindo-nos em nossas orações, pois o nosso objetivo não deve ser a nossa satisfação, mas, sim a glória de Deus.
O conteúdo da nossa oração
“…com a confissão dos nossos pecados e o grato reconhecimento de Suas misericórdias”. Duas ações são descritas aqui: confissão e gratidão. Não haverá uma só oração nossa que essas duas ações não devam aparecer. Sempre teremos pecados a serem confessados a Deus, e sempre seremos abençoados por Sua misericórdia.
Porque Deus é santo, não podemos permanecer em Sua presença abrigando pecados em nosso coração. Daí a necessidade de confessarmos nossos pecados logo no início de nossas orações (geralmente, quando o fazemos é no final delas), não como um mero formalismo, mas, como o reconhecimento de que o que merecemos Dele é a Sua ira, a qual é retida porque já foi derramada sobre Jesus em nosso favor por pura misericórdia de Deus, a qual devemos sempre ser gratos a Ele.
Quando você estiver orando lembre-se dessa preciosa verdade: você se dirige a Deus Pai, tendo nos céus o Deus Filho intercedendo por você junto ao trono da graça (cf. Hebreus 4.16), enquanto tem aqui no mundo, o Deus Espírito Santo intercedendo por você com gemidos que não podem ser expressos com palavras (Romanos 8.26).
Rev. Olivar Alves Pereira
Ad Majorem Dei Gloriam

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